Jorge e Hekel: poesia para inquietar e música para suavizar
Ao fundo do palco, para quebrar a suavidade do piano que tocava Azulão, de Hekel Tavares, surge a voz marcante e firme de Ricardo Cabús com versos de Jorge de Lima que diziam: “Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva abraçado com a hélice (...)”. Assim, entre a tranquilidade dos acordes tocados e a inquietude das palavras recitadas, teve início o recital Jorge e Hekel. A obra de Jorge de Lima foi mostrada em seus mais diversos prismas. O público decifrou o amor, a religiosidade e a crítica social trazidos em versos atemporais através de alegorias e simbologias cuidadosamente estruturadas – características fundamentais do poeta. Os clássicos O acendedor de lampiões e Negra Fulô fizeram-se presentes, sendo vistos como partes de um mundo consistente formado pela escrita do Príncipe dos Poetas e não como ilhas isoladas em um oceano de versos soltos. A música, interlocutora do diálogo com a poesia, marcou presença pelas mãos encantadas de Selma Brito, ao piano, e Bruno Tenório, ao violino, com direito a uma participação mais que especial da soprano Patrícia Hecktheuer, que entoou Guacyra e Bia-ta-tá. O público interagia com o palco através de olhares atentos e aplausos calorosos, se fosse possível traduzir as expressões em uma só palavra, a eleita seria deleite. O professor de literatura Sérgio Mello descreveu o recital como “Uma experiência renovadora, que traz ao público a surpresa de novas interpretações a partir da entonação usada nas declamações e da interligação com a música. Parabéns aos que fazem esse espetáculo acontecer. Assistirei quantas vezes for reapresentado.” E, entre a emoção do que foi apresentado e a promessa de um retorno em breve, despedindo-se do outono na véspera do solstício de inverno, a poesia de Jorge de Lima foi desfolhada e a música de Hekel Tavares inundou o Teatro Jofre Soares, encerrando a participação do Instituto Lumeeiro nos Recitais Literários do Sesc, com o recital Jorge e Hekel.
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